Esmagar e esnafrar


Outro germanismo exclusivo galego-português é a verba maga 'tripa de peixe', e máis os seus derivados magueiro 'estrumeira' e esmagar 'apertar; esbandulhar, estripar'. O que segue é umha escolma das acepçons que recolhem os dicionários do Dicionário de Dicionários:


'maga: Los intestinos y broza de los pescados, v. g.: esto apesta a maga de sardinas.' (DdD: Sarmiento, CatálogoVF, 1745-1755)


'maga: Encarnada, las tripas del pescado.' (DdD: Pintos, 1865)


'maga: ['maxa]. Tripas en conjunto de la sardina. La Guardia. DE LA RAÍZ "MACC".' (DdD: Aníbal Otero HE03, 1949-1977)


A verba já aparece recolhido por escrito desde o século XIII, em relaçom co seu valor industrial, por quanto a maga, cabeça e demais despojos da sardinha eram a base da elaboraçom do saim (do latim *SAGINEM) ou azeite de peixe, empregado como combustível para a alumeaçom:


'FERRANDUS, Dei gratia rex Castelle et Toleti, Legionis, Gallecie e Cordube, omnibus hominibus de Gallecia hanc cartam uidentibus, salutem et gratiam. Noueritis quod ego inuenui per inquisitionem uirorum bonorum quod pater meus statuit quod in tota Gallecia non facerent sagimen de sardinis nisi in istis duobus locis, uidelicet, in Ponteueteri et in Noya. Et in istis duobus locis non debent facere sagimen nisi de capitibus et de maga sardinarum tantum' (TA1238)


A verba é tamém recolhida nas ordenanças de Pontevedra de meados do século XIII, redigidas num castelám ou leonês moi galeguizado, e editadas por López Ferreiro em 'Fueros Municipales de Santiago y de su Tierra' (1895, p. 508-517):


'Sy onbre de fuera de la villa traxier barcada de magas de sardinas salgadas a la villa, debe dar al mayordomo de cada barcada sendos soldos'


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Desta verba deriva magueiro, ou 'lagar para a produçom de saim':


'magueiro: s. m. Montón o conjunto de MAGA de sardinas o de otros pescados, dispuesto para hacer la grasa de saín.' (DdD: Eládio Rodríguez 1958-1961)


Esta verba vem já recolhida nas ordenanças de Pontevedra de 1496, estas redigidas em galego, algo castelanizado:


'Outrosy con condiçon que ninguna persona non seja ousada de fazer magueyro nin cortello en ninguna rua publica salbo de fora da villa en suas erdades, casa un como tever, so pena de sasenta maravedis vellos que pague para o conçello aquel que asi o fezer.' (J. Armas Castro, Pontevedra en los Siglos XII a XV, p. 385)


É comum nas ordenanças urbanas medievais, que aquelas actividades industriais ou artesanais que causassem mal-estar aos vizinhos, como maqueiros, pelámios ou cortelhos, fossem expulsadas aos subúrbios.


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E tamém de maga deriva o composto esmagar, formado coa partícula es-, originada do latim EX-, que indica separaçom ou extracçom: esnafrar (de nafre 'nariz, morro' ˂ germánico *nabja; cf. antigo nórdico nef e galego e castelám nápia 'nariz'; cf. antropónimo suevo Niufila, de PG *neujaz 'novo', e gal. ripa/rípia ˂ PG *rebjam), esmendrellar (cf. mendar, remendar = 'reunir pedaços'), esnaquizar (cf. anaco = 'pedaço'), estripar (de tripa), esbandulhar (de bandulho), etc... Por um procedimento inverso: espichar 'atravessar cum espeto' ( ˂ latim SPICULARE) ˃ espicha 'espeto' ˃ picha 'caralho'.


Os dicionários recolhem para esmagar:


'esmagar: Destriparse, y se aplica a frutas y a otras cosas, y acaso samago de aquí.' (DdD: Sarmiento, CatálogoVF 1745-1755)


'esmagar: En Caldas estrujar, v. g.: no esmagues a ese niño, esto es, no te eches encima.' (DdD: Sarmiento, CatálogoVF 1745-1755)


'esmagar: No hay cosa más fácil que el extraer el saín de las sardinas. Acabadas de sacar de las redes las descabezan las mujeres y echan las cabezas en unos calderones. A esto llaman escochar. Después les quitan todas las entrañas, y las amontonan [196v] con las cabezas. A esto llaman esmagar o quitar la maga, porque lo interior de la sardina se llama maga. Después, las cabezas y la maga se ponen a cocer y la superficie es el saín, que se recoge en vasijas. Sucede que por desidia de las mujeres, o por mucha abundancia de sardinas, hacen montones de cabezas y los dejan sin utilizarlas, y solo sirven de apestar el barrio. Eso quieren los cerdos, pues se alampan por cabezas de sardinas y por su maga. Pero la carne de esos cerdos no puede ser peor. Otras veces se suele estercolar una heredad con cabezas de sardinas, cuyo benigno salitre fertiliza sumamente la tierra.' (DdD: Sarmiento, 660 pliegos, 1762)


'esmagar: Destripar, desbarrigar. Port. id.' (DdD: Rodriguez 1863)


'esmagar: v. Estrujar, esbarrigar, espachurrar.' (DdD: Porto 1900)


As mencions máis antiguas de esta verba, acho-as em documentos portugueses (tomados do Corpus Davies / Ferreira):


'Traziam algûus deles hûus ouriços verdes d'arvores que na cor queriam parecer de castinheiros senom quanto heram mais e mais pequenos e aqueles heram cheos d'hûus grãaos vermelhos pequenos que esmagando os antre os dedos fazia timtura muio vermelha da que eles amdavam timtos e quanto se mais molhavam tanto mais vermelhos ficavam.' (Documentos da Armada de Alvarez de Cabral, 1499-1500)


Nom comparto nem considero correta a etimologia proposto no (magnífico) dicionário de Ir-Indo, '˂ lat v *EXMAGĀRE ‘perder as forzas’. E nom, esmagar nom é vocábulo conhecido em espanhol, se bem é verba tam vivaz na Galiza que todos a empregamos incluso ao falar castelám.


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Já adiantei o carácter germánico da verba galego-portuguesa maga. O seu étimo é o protogermánico *magōn ou *magan 'estómago' (GWB, s.v. *magō-), do que derivariam o antigo nórdico magi 'estômago, ventre', antigo inglês e antigo frisom maga idem, antigo alto alemám mago 'estômago, barriga, bandulho'.


A sua vez, esta forma protogermánica proviria do protoindoeuropeu *mak- 'bolsa de coiro' (IEW: 698), que tem deixado descendência em linguas germánicas, bálticas e célticas, mais só nas primeiras co valor de estómago ou barriga.


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Por último, e a jeito de excurso, já mencionei antes a verba esnafrar, como derivada de nafre, nafres 'nariz, morro'. Esta última verba seria cognata de outro germanismo, nápia ou nápias, derivadas todas -se nom me equivoco- do protogermánico *nabjan 'nariz' (ver GWB).


PG *nabjam ˃ *nabja ˃ *nabbja (reduplicacçom de consoante por iode, fenómeno fonético germánico ocidental) ˃ *nappia (enxurdecimento sud-germánico das oclusivas) ˃ nápia (simplicaçom hispano-romance de oclusivas gemeadas).


Quase idêntica é a evoluçom da verba ripa / ripia 'costeira ou listom de madeira'

PG *rebjam 'costela' ˃ *rebja ˃ *rebbja ˃ *reppja ˃ ripia / ripa. Semánticamente o passo é simples, pense-se nas ripas apoiadas sobre umha viga num teito a duas augas.


A evoluçom de nafra é bem distinta:


PG *nabjam ˃ *nabja ˃ *nabbja (até acô a evoluçom é germánica) ˃ *náffia (esta evoluçom deve ser já romance, e acha acomodo na evoluçom análoga do antropónimo suevo Neufila, derivado de *neuwiaz ˂ Pg *neujaz 'novo') ˃ naf-: nafre, nafres 'nariz, morro', náfiga 'rascunho no nariz' .


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