Faísca


Abstract: The Galician word faísca 'fly ash', medieval falisca, derives from the Germanic word *falwiskan, having some cognates like Swedish falaska, mhg. valwische, an. fọlski.


Outra fermosa verba galega de orige germánica é faísca 'muxica, cinza', ou na definiçom de Valladares em 1884, 'Ceniza ligera ó que sube con el fuego y se vuelve á posar' (DDD: Valladares, s.v. faísca), e tamém 'frouma, arume, folhas de pinho', 'copo de neve', e 'racha, fragmento de madeira', e finalmente 'resíduo, estrume'. Presenta as variantes fuísca, faiusca, faúsca, frasca, farrusca, frosca, funisca, de idêntico significado. É verba tamém conhecida na fala galego-portuguesa do Val do rio Elhas, na Estremadura espanhola, na forma funisca,

Possue a nossa verba alguns cognatos, todos com idêntico significado 'cinza, chispa que sae do lume':

Antigo italiano falavesca.

Antigo francês fallevuche.

Médio alto alemám valwische 'Asche, Flugasche, Ruß' (GWB: s.v. *falwiskō).

Nórdico antigo fọlski.

Sueco falaska 'embers, white ashes'


Por suposto, faísca nom tem étimo latino. Para estas palavras Gerhard Köbler reconstrue o étimo *falwiskōn ou *falwiskan, de idêntico significado, 'cinza que sube co lume', e relacionado com verbas como *falwaz 'da cor da palha' (relacionado em orige co latino PALLIDUS), de onde o galego fouveiro 'loiro, castanho claro' ˂ *falvariu.


Em castelám é recolhida umha única vez a forma fuísca, na escolma de provérbios romances de Hernán Núñez, de 1555, glossado como 'centella'; é forma que o dicionário da RAE reconhece proceder do galego-português, entendo que por ser forçosa a perda do /l/ intervocálico na história evolutiva desta verba, perda que só se da no galego-português entre as diversas línguas peninsulares. Tamém se conhece nas falas salmantinas a verba frasca 'folha de pinho; gente mala'.


~o~o~o~


Em galego a cita máis antiga que lhe conheço onde a palavra seja usada no seu valor, é na versom galega da General Estoria de Afonso X, que data do primeiro terço do século XIV:


'Et em outro dia seguẽte, despoys queo destroymẽto destas çidades foy feyto, leuãtouse Abraã daquel lugar donde avia estado et falou cõ noso señor Deus et por que El lle disera oque queria fazer sobre aquelas çidades, catou Abraã contra Sodoma, et Gomorra, et contra todos los termynos delas, et vio sayr ẽno ayre feyscas et moxenas da terra [asi] cõmo de forno que arde: et por [estes] synaes que via entedeo que Deus destroya aquelas [cidades] et crééo quese nẽbrara del, et librara aLoth, seu sobrino daquel destroymẽto.' (TMILG: General Estoria, ed. R Martínez López).


Máis temperamente está documentado o seu emprego como alcume, num documento de Vilar de Donas, onde se fala dos descendentes dum home chamado Munho Faísca:


'e por todos nos e geeraçon de Monyo Feysca' (Vilar de Donas, 1271)


Este Munho Feysca é o Munio Petri dicto Falisca que aparece em diversos documentos galegos do último terço do século XII:


'et Onega Martini, uxor de Munio Faisca' (Sobrado s.d.)

'Munio Petri cognomento Falisca cf., Garsia Gundisalui cf., Pelagius Iohannis cf.' (Sobrado 1173)

'Adefonsus Roderici cf., Orraca Adefonsi cf., Munio Falisca cf., Rodericus Fernandi cf.,' (Sobrado 1177)


Ao menos outro home da mesma época era chamado tamém Faísca:


'Oduarius Carbalius, conf. Martinus, presbitero, conf. Petrus Falisca, conf.' (TTO 1167)

'Oduarius Quercus, conf. Petrus Falisca, conf. Martinus, presbiter, conf.' (TTO 1168)

'Oduarius Carualio, conf. Petrus Falisca, conf. Fernandus Fernandiz, conf. ' (TTO 1175)


~o~o~o~


Por todo o anterior podemos assumir umha história evolutiva como esta:


*falwisca (proto-germánico) ˃ falisca (coalescencia ou perda de wau logo de consoante: BATTUERE ˃ bater, CONSPUERE ˃ cuspir) ˃ faísca (perda do /l/ intervocálico), eventualmente feísca (coas vocais em hiato evoluindo -aí- ˃ -eí-, frequente na Idade Média).


Junto com *falwisca ˃ *fauisca (perda de /l/ intervocálico) ˃ *fouisca ˃ fuísca (reduçom do triplo encontro vocálico), e eventualmente ˃ funisca (com epêntese de nasal anti-hiática).


E tamém *falwisca ˃ *falusca (monotongaçom de /ui/ ou /oi/ como em cogermanum ˃ coirmão ˃ curmao) ˃ faúsca (perda de /l/ intervocálica), eventualmente ˃ faiusca (epêntese de iode antihiatica).


Frasca e frosca tém tal vez umha história evolutiva algo diversa, partindo dumha forma *fal-wis-ca ˃ *fa-la-wis-ca ˃ *fa-law(i)s-ca (cámbio de silabismo da palavra) ˃ *falosca e falasca (como no sueco, com monotongaçom germánica de /aw/ ˃ /o:/ ou /a:/) ˃ *flosca e *flasca ˃ frosca e frasca.


Nom poucas das nossas verbas relacionadas co lume som de orige germánica: brasa, áscua, faísca, espeto, rostir...


P.D.: buscando buscando acho agora (3/09/2009) que em Leonês da Maragateria conhece-se a verba falisca, co valor de 'floco de neve' (ver referência no dicionário de asturiano do xornal La Nueva España).


Comentarios

O máis visto no último mes